Mãe executiva, carreira encurtada

 

imageEncontrei este artigo na Época Negócios, e infelizmente só vem a reforçar o que a maioria de nós, mulheres que nos dedicamos a vida corporativa, que fizemos pós ou MBA, nos deparamos quando estamos no auge da carreira e que decidimos ser mãe. Não enxergamos tantas alternativas, só o caminho da escolha. É muito triste e lamentável as empresas não olharem para isso com mais atenção, dedicação ( já que dizem que o bem maior de uma empresa, é o capital humano. Já posso rir da piada?). É uma palhaçada nos dedicarmos de corpo e alma a uma profissão ou uma empresa e na hora que precisamos de um pouco mais de tempo, compreensão, ouvimos de grande executivos: “Nossa, vc não é mais a mesma!” ou simplesmente somos dispensadas como guardanapos. Vi isso em várias empresas que trabalhei com colegas de trabalho, com a seguinte justificativa: fulana, já não se dedicaca mais ao trabalho. Sabe por que? Porque ela tinha horário para sair e buscar as crianças na escolinha. Momento de silêncio, sem comentários.

Segue aqui o artigo na íntegra, ou leia abaixo:

Em 2004, Catherine Wolfram folheava uma publicação especial sobre os 15 anos de formatura da sua turma na Harvard Business School. Ao ler os relatos de vida de suas colegas, ela se surpreendeu com o grande número de mulheres que desistiram da carreira para se dedicar à vida familiar. Resolveu entender o que acontecia e descobriu que não era um fenômeno limitado à sua classe.
Professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Catherine pesquisou a vida de mil mulheres que se formaram entre os anos de 1988 e 1991 em Harvard, a mais prestigiosa universidade do planeta. Constatou que 15 anos depois da formatura, 28% das mulheres que se especializaram em negócios – ou seja, fizeram cursos de MBAs – haviam abandonado a carreira. Entre as que se formaram em advocacia, esse índice caía para 21%. As mais fiéis à profissão eram as médicas – apenas 6% deixaram o trabalho. Todas as que foram pesquisadas eram mães – com pelo menos um filho – e tinham idade média de 37 anos.
Catherine acredita que a diferença constatada na pesquisa se explica pelo fato de a medicina e a advocacia serem mais receptivas às necessidades das mães. Uma boa parte das médicas se dedica a trabalhos que possibilitam a adoção de uma carga horária menor. O horário das advogadas também costuma ser mais flexível. Realidades muito diferentes da vivida pelas executivas, obrigadas a se submeter a uma carga horária intensa e – o que é pior – a fazer viagens de trabalho. Um terço das mulheres pesquisadas por Catherine fizeram carreira em instituições financeiras e 17% em consultorias.

Médicas e advogadas adotam
com mais facilidade horários
flexíveis quando se tornam mães

Além das imposições da carreira, as executivas não sentem um vínculo tão forte com sua profissão, diz a professora de Berkeley. A começar pelo tempo que dedicaram para se profissionalizar – um curso de MBA dura em média dois anos, muito menos do que os de medicina e de direito. Além disso, elas investiram menos em sua formação. Em média gastaram US$ 146 mil com a especialização em negócios – o curso de advocacia custa US$ 225 mil e o de medicina, US$ 308 mil, segundo o levantamento. Catherine suspeita ainda que a decisão de as mães com MBA abandonarem a carreira possa ter relação com o fato de serem casadas, muitas vezes, com profissionais ambiciosos, cuja remuneração elevada permite que elas se dediquem apenas à criação dos filhos.
A professora afirma que apenas a criação de ambientes executivos mais amigáveis às mães poderá estancar esse movimento. Avaliação que coincide com a da obra Opting Out?: Why Women Really Quit Careers and Head Home (“Opção?: Por que as mulheres desistem de suas carreiras e voltam para casa”), último trabalho de Pamela Stone, professora de sociologia da City University of New York. Depois de mergulhar na vida de 54 mulheres bem-sucedidas que abandonaram a carreira, conclui que a decisão não indica uma retomada de valores tradicionais, mas sim a inexistência de alternativas. É o trabalho, afirma ela, que se mantém tradicional, incapaz de apresentar opções para que as mães permaneçam na ativa.

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